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Paulo Fatela

Blog sobre artes, ofícios, paixões e diversas questões

Paulo Fatela

Blog sobre artes, ofícios, paixões e diversas questões

Presépio "Lovely Family"

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Presépio "Lovely Family", produção de 2015, esta peça doi doada ao CRIC - Centro de Reabilitação e Integração de Coruche.

"Lovely Family" é produzido em madeira de pinho, recortado,  revestido com tecido imperbilizado.

VINTE ANOS

Não sou saudosista, mas tenho vontade de reportar que há vinte anos exteriorizei publicamente o interesse por peças associadas às designadas artes decorativas, artesanato, artes visuais em geral.

Em 1995 expressei esse interesse quando executei o brasão da vila de Coruche, em flores naturais, peça integrada no cortejo etnográfico das Festas em Honra de Nª Srª do Castelo. Tratou-se de um grande desafio, considerando que nunca tinha feito nada de semelhante. Foram 12 horas de execução, das 18h do dia 16 de agosto às 06h do dia 17, apenas apoiado pela minha companheira Clotilde. 

Este evento e outros que se seguiram no ano de 1995 fizeram-me ver a inveja e outros maus sentimentos, contudo foram úteis para criar músculo e CRESCER!!! Só consegui retomar a exposição pública 5 anos depois.  “SÒ SE VIVE UMA VEZ " e por isso não voltei a fazer pausas...

  

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Mantas Alentejanas

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" São apenas três pares de mãos e três pares de pés que produzem todo o tipo de artigos a partir das típicas mantas alentejanas. As tecedeiras trabalham oito horas por dia e, apesar de estarem sentadas, fazem “ginástica” o dia todo para darem resposta às inúmeras encomendas que recebem todos os dias.

“A manta serve para muita coisa, almofadas, biombos e puffs”, explica Mizette Nielson, a proprietária. Os hotéis que têm problemas de acústica aproveitam os têxteis para questões de isolamento, “é um dois em um: decoração e isolamento”.

Mizette tem contribuído para manter esta herança viva e tem nas suas mãos o desafio de não deixá-la morrer. É nesse espírito que quer assegurar a continuidade da actividade, adaptando-a ao longo do tempo.

A versatilidade das mantas é tal que já se fizeram cabeceiras com tapetes a condizer e um conjunto de 100 tapetes para hotéis, os desenhos foram escolhidos “com base em desenhos antigos alentejanos que foram adaptados”. Assim as mantas que originalmente eram uma espécie de cobertor de lã, usadas apenas por pastores e feitas com modelos simples, tornaram-se peças decorativas muito cobiçadas.

Esta criação artística acontece num antigo lagar de azeite, com uma área de 1600m2, adaptado a centro de exposições, fábrica de tecelagem e habitação. Mal galgamos a entrada parece que recuámos décadas, estamos na Fábrica Alentejana de Lanifícios, que de fábrica só tem o nome, já que tudo é produzido em teares manuais e conta-se pelos dedos de uma mão quem aqui trabalha.

Numa sala grande, tanto em espaço como em altura, com um tecto feito de vigas de madeira e um chão de cimento, com apenas duas pequenas janelas na parede e quatro aberturas no telhado, encontram-se 11 teares de todos os tamanhos, o mais pequeno tem 1,20m de largura e o maior 2,40m. Os teares mecânicos encontram-se desmontados a um canto, pois ali só se utilizam os originais, provavelmente já com 100 anos. Por toda a fábrica acumulam-se amostras, de várias cores.

Apenas três mulheres trabalham naquele espaço despido e frio, sentadas em frente aos teares, debaixo de grandes candeeiros que iluminam o que estão a fazer, abstraindo-se do barulho do bater das traves que ecoa pelas paredes. Fátima tem 53 anos e já está na fábrica há 12, conta que ali trabalham muito “por encomenda”: “E no intervalo vamos fazendo algumas coisas para a loja”. Pode estar sentada durante as oito horas, mas os braços e as pernas não param um segundo, por isso ao final do dia o corpo está cansado: “Saímos daqui estafadas”.

As tecedeiras fazem ginástica o dia inteiro. Firmam-se na burra, uma trave na traseira do tear, e enquanto carregam nos pedais puxam a maniota com a mão direita e empurram o batente com a esquerda. A lançadeira (onde se coloca a lã) voa da direita para a esquerda e da esquerda para a direita. É preciso muita coordenação, pois existem quatro pedais e os pés vão passando de um para o outro, dependendo do padrão que se deseja.

Ao gosto do freguês
Rita, de 29 anos, foi para a fábrica em Janeiro. Vivia em Lisboa há mais de dez anos, dava aulas de Educação Visual, mas quando não foi colocada voltou para casa dos pais, que fica precisamente na rua onde se encontra a fábrica. Propôs um estágio a Mizette e acabou por ficar: “Não tem nada a ver com dar aulas, mas estou a gostar muito do que faço. A tecelagem é uma das coisas que eu mais gosto”. Apesar de já não se encontrar rodeada de crianças considera que “o trabalho não é nada rotineiro, pelo contrário é muito gratificante e curioso”.

Mizette conta que vêm muitas estagiárias de fora, de faculdades de têxteis, com o propósito de aprenderem, só que “às vezes não convém, porque é material e tempo que se gasta, é preciso ter alguém com bases”. Mas como é a última fábrica de têxteis na Europa faz muito sucesso lá fora: “Temos visitantes todos os dias, de todos os lados do Mundo”.

Por ter apenas três tecedeiras, as pessoas têm de esperar para receberem os seus pedidos e as grandes encomendas demoram mais tempo: “A maioria delas provém da loja, de pessoas que vão passar o fim-de-semana a Monsaraz”. É que além da fábrica, Mizette ainda tem uma loja, afirmando que as duas “estão muito ligadas”, mas que “as pessoas preferem ir a Monsaraz por ser mais turístico”.

Quanto ao produto final, as medidas e os padrões podem variar conforme o gosto do cliente, tendo como base as linhas tradicionais. Sempre em lã, sem qualquer mistura de fibras sintéticas, podem ter riscas, espigas, quadrados, castelos, losangos ou fuzis. Em cerca de três dias, é terminada uma manta grande (com uma dimensão de dois metros e quarenta por três), mas já chegaram encomendas bem mais demoradas, como uma passadeira com 26 metros de comprimento.

Mizette fala sobre os pedidos que já lhe foram feitos dizendo que “é giro acompanhar as tendências de interior”. Conta que durante anos as encomendas incidiram apenas sobre o preto e branco, passaram depois ao amarelo e cinzento e, mais recentemente, aos tons terra, vermelho e ferrugem. “Na última temporada, também o verde e o azul forte entraram na lista de pedidos”, o que complica as quantidades que são necessárias mandar tingir.

Sendo um produto tipicamente português ,a lã utilizada também faz um percurso totalmente nacional: é comprada em rama em Castelo Branco, lavada e fiada na Guarda e tingida em Mira de Aire. Além das encomendas feitas na loja em Reguengos ou na própria fábrica, as mantas podem ser compradas na loja A Vida Portuguesa, em Lisboa e no Porto, mas não se encontra uma igual em mais lado nenhum, pois “o facto de ser um trabalho manual torna o produto exclusivo”. Quanto ao preço, os valores variam muito: “Como leva imenso tempo calculo pelo peso e dias de mão-de-obra, é o mais justo”, diz Mizette.

Mizette nasceu na Holanda e antes de vir para Portugal, em 1962, viveu em França, Inglaterra e Espanha. Foi directora de agências ligadas à moda, publicidade e cinema. Fez parte da produção do filme 007 "Ao Serviço de Sua Majestade”, o único da série rodado em Portugal, e organizou o primeiro concurso Miss Portugal.

Quanto ao destino desta fábrica Mizette conta: “Estou a procurar alguém que continue. Levou muito tempo para voltar a colocar as mantas de Reguengos no mapa, agora é algo economicamente visível e não quero que se perca isso”. Irá ensinar as bases e passar os conhecimentos que adquiriu durante os anos todos que esteve à frente do negócio. Pretende assegurar a continuidade desta actividade, que faz parte do património e da herança do Alentejo."

Por: Inês de Sousa Medeiros 

Exposição de presépios em Coimbra - Convite

Passo a divulgar o e-mail que recebi da Divisão de Cultura e Turismo da Câmara Municipal de Coimbra:

"A Câmara Municipal de Coimbra promoverá, através da Divisão de Cultura e Turismo (DCT), entre os dias 5 de dezembro de 2015 e 6 de janeiro de 2016, uma exposição/venda de presépios artesanais, no antigo Posto Municipal de Turismo - Mercado D. Pedro V, cujo horário será: de segunda a sábado, das 9h00 às 12h30 e das 13h00 às 16h30. [Encerra ao domingo, dias 8, 24, 25 e 31 de dezembro e dia 1 de janeiro]. 

A iniciativa tem como principal objetivo promover as criações artesanais alusivas à Natividade, divulgando a arte popular e urbana executada pelas mãos de diversos artesãos de vários pontos do país e tem suscitado uma significativa adesão de público que, desde há seis anos a esta parte, está habituado a visitar a exposição/venda de Presépios em Coimbra.

Os expositores deverão cumprir todas as disposições legais e regulamentos aplicáveis à sua atividade e aos produtos que comercializam, isto é, qualquer indivíduo, empresa ou instituição pode proceder à inscrição, no pressuposto de que tenha autorização legal para o fazer, estando devidamente coletado nas finanças, e cumprindo a Lei relativamente às transações efetuadas.

A inscrição/participação no evento tem carácter gratuito.

Para efeitos de eventual participação, facultamos uma “ficha de inscrição” (anexo) que deverá ser completamente preenchida e devolvida acultura@cm-coimbra.pt até ao dia 20 de novembro de 2015.

A seleção dos inscritos obedece a critérios relacionados com a tipologia, qualidade, originalidade, fidedignidade e a inovação das peças apresentadas. A organização reserva-se ao direito de recusar qualquer inscrição que não se enquadre no âmbito ou nos objetivos da tipologia do evento.

A organização, porque limitada ao espaço disponível, estabelece o limite máximo de participantes assim como os critérios de seleção/quantidades das peças a expor, equitativamente, por participante, para efeitos de venda.

Após análise das inscrições e seleção dos participantes, comunicaremos a todos os inscritos, via e-mail, da efetiva participação, ou não, na iniciativa.

Estabelecemos como prazo de receção das peças (peças para exposição/venda + peça para oferta à Câmara) o dia 30 de novembro de 2015.

Todas as peças deverão estar identificadas conforme o documento “Identificação/relação das peças entregues à Câmara Municipal de Coimbra” (anexo), que deverá ser preenchido e rececionado nos serviços da DCT aquando da entrega das peças para exposição/venda (até 30 de novembro).

Colocaremos à venda os presépios dos artesãos representados (em regime de consignação, com fatura a emitir pelo autor das peças, no caso da respetiva solicitação. Esta situação, assim que se justifique, será comunicada, de imediato, ao artesão em causa, que se comprometerá a emitir a fatura e a enviá-la para a morada postal de quem adquire as peças – que facultaremos –, imediatamente após a efetivação do ato de compra e venda).

Comunicamos que uma das condições de participação é que, no caso de que haja lugar a danos causados durante o transporte das peças, ou durante a sua exposição para venda, não recairá qualquer tipo de responsabilidade sobre o município, pelo que todo e qualquer prejuízo será assegurado pelo autor das peças. 

Tratando-se de uma iniciativa cuja participação é gratuita cedendo o município, além do espaço físico, recursos humanos que permitam a presença, permanente, de funcionários para procederem às respetivas vendas (integralmente a favor dos artesãos participantes), uma outra condição de participação prende-se com a necessária oferta de uma peça representativa de cada artesão para enriquecimento do espólio de presépios da Câmara Municipal de Coimbra (quer obtenha, quer não obtenha quaisquer receitas fruto de eventuais vendas). A oferta da peça (que deve ser entregue em separado e devidamente identificada pelo autor) é acompanhada pelo preenchimento de uma “Declaração de oferta de presépio à CMC” (anexo). O critério de escolha da peça a oferecer pertence exclusivamente ao artesão participante.

Os artesãos selecionados para efeitos de participação na iniciativa, poderão optar pela entrega presencial das peças – na Casa Municipal da Culturade preferência, junto da Divisão de Cultura e Turismo, de segunda a sexta-feira, das 9h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30, ou, em alternativa, junto da receção, de segunda a sexta, das 17h30 às 19h30, ou ao sábado, entre as 11h00 e as 13h00 e entre as 14h00 e as 19h00 – ou pelo envio por correio postal [morada: Casa Municipal da Cultura (DCT – Presépios); Rua Pedro Monteiro; 3000-329 Coimbra].

Eventuais esclarecimentos/informações: Telef. 239702630, com Alice Lucas ou Manuela Martinho (Técnicas da Divisão de Cultura e Turismo).

Antecipadamente gratos, na expetativa de que possa V. Ex.ª aceder ao nosso convite,

Com os melhores cumprimentos."

Paulo Cunha e Silva um visionário da cultura

"Paulo Cunha e Silva é formado em Medicina. Entre outros cargos, foi director do Instituto das Artes e conselheiro cultural da embaixada de Portugal em Roma. É vereador da cultura na Câmara do Porto.

“Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo” – Fernando Pessoa. Pode falar-me de alguns dos sonhos do seu mundo? 

Não sei se o sonho comanda a vida ou se a vida comanda o sonho, talvez que a verdade se encontre no epicentro destas duas possibilidades. Mas não posso acreditar numa vida sem sonho, numa vida dedicada à gestão de um quotidiano determinista e causal. O sonho, mesmo que não se concretize, é o motor secreto da mudança. Um mundo sem sonho é um mundo condenado à sua previsibilidade e anomia. Sonhar é preciso, e é preciso perseguir o sonho, por mais inconcretizável que pareça.

O que se aprende nos livros, no cinema, na arte é muito diferente do que se aprende na vida?

Não encontro descontinuidade entre os livros, o cinema, a arte e a vida. Posso encontrar extensão, complementaridade. Nunca entendi a cultura como uma segunda natureza. A cultura é uma natureza expandida e estendida. Nesse sentido, o livro, a obra pode levar-nos a um lugar mais distante, a um ponto de observação simultaneamente mais lúcido e descontínuo – inspirador na capacidade que tem de nos provocar o espanto.

Frequentar e confrontar os territórios que a cultura nos propõe é munirmo-nos de novos instrumentos para encarar o mundo.

Há 40 anos tivemos um Verão Quente, com o país a rasgar-se. Que memórias tem desse tempo?

Nessa altura vivia em Braga. O meu pai era juiz e não sendo, obviamente, um opositor do regime, nem um manifesto antifascista, era alguém que olhava para a política e a sociedade com uma ironia tão crítica e desassombrada que lhe dava um estatuto de certa benevolência por parte de todas as forças políticas. Nunca esteve preso, não teve fugir, não foi saneado. Seria mais de direita do que de esquerda. Não tinha nenhuma medalha de mérito ou de demérito revolucionário para ostentar. Não terá gostado das minhas leituras marxistas aos 12 anos. Conta-se que num assomo de fúria me terá ameaçado de ser deserdado, não pela minha frequência de juventudes radicais, mas pelo universo literário da revolução que eu ia frequentando de uma forma crescente e visível.

Nesse ano, o que mais me marcou, porque o vi acontecer à minha frente e não na televisão, foi o assalto à sede do Partido Comunista (em Braga).

Que impacto teve esse episódio em si?

Nunca tinha assistido à violência a irromper à minha frente, como se houvesse uma espécie de fúria das multidões, uma acefalia do comportamento das massas que nunca tinha encontrado nos indivíduos. Nesse dia, eu que era de certa forma filho da prática da justiça e da administração que dela faziam os tribunais em nome do Estado, fiquei com medo da justiça popular. Fiquei com medo da cegueira da praça pública. E aprendi.

Também há 40 anos, o país recebeu 700 mil retornados, Angola, Moçambique e Cabo Verde tornaram-se independentes. O que é que acha que quer dizer de um país o facto de este ter acolhido sem convulsões sociais uma quantidade tão grande de pessoas?

Foi de facto uma gigantesca revolução silenciosa. A capacidade de um país incorporar em poucas semanas uma população externa que correspondia a quase 15% da sua população interna é surpreendente. É claro que nem tudo foi fácil. Lembro-me do estigma do “retornado” que se colava à pele do “outro” de uma forma muito desagradável.

 Tem uma história pessoal ligada ao retorno que queira contar?

O meus avós maternos tinham investimentos em Angola, onde nasceram dois tios meus, mas nunca viveram de forma definitiva em Luanda. Com a descolonização, perderam os seus interesses lá. Mas viveram tranquilamente com os investimentos que tinham em Portugal. Todavia, o meu avô vivia numa nostalgia de recuperar o património, sobretudo imobiliário, que tinha ficado em Angola.

Ouvia falar num procurador que tinha tido instruções para vender tudo o que pudesse, mas que subitamente desapareceu sem deixar rasto... Memórias difusas de um tempo em que eu entrava na adolescência. Hoje lamento que não haja mais África na cultura portuguesa contemporânea. E com cultura também quero dizer política.

Acha o discurso: “Eles são todos iguais!” uma consequência do estado a que isto chegou? Ou considera que é grave e abre espaço a populismos?

Se fossem todos iguais mas também todos diferentes, a situação ainda passava. O problema é se são só mesmo “iguais”. Chamo a atenção para a configuração do “Eles”. O “Eles” são os outros, os maus, os corruptos. “Nós” somos os bons. Esta formulação é a evidência da fractura entre os políticos e a população. A afirmação é naturalmente populista, mas compete aos políticos criar condições para a sua dissolução.

 Oficialmente saímos da crise. À esquerda e sobretudo à direita, disse-se que Portugal tinha vivido acima das suas possibilidades e que era preciso aprender a viver de outra maneira. Aprendemos?

Aprender é uma condição muito humana, diria mais, muito biológica. Os humanos aprenderam a aprender. Os seres vivos aprenderam a ajustar-se. Conseguimos aprender, conseguimos ajustar-nos, mas não podemos perder o direito à indignação.

 Atravessamos um deserto em que todos sabemos o nome do ministro das Finanças alemão ou grego. Antes de mais: considera que é um deserto? Onde fica o oásis?

Para os investidores, o oásis talvez possa ser um índice NIKKEI favorável. Mas olho com tristeza e cepticismo para a captura da política pelas finanças e da cultura pelos fundos de investimento.

Se pudesse escrever uma carta a alguém, gritar alguma coisa (um insulto, uma advertência, um conselho, uma declaração) seria o quê e a quem? Pode ser a um político. Pode ser ao mundo. Pode ser mesmo a quem quiser.

Não deixem de gritar. O grito, mesmo o de Munch, é o desconforto do humano, o desassossego do vivo. Gritem, mas também dancem, se puderem!

O futuro passou a ser uma ameaça, evitar o perigo uma divisa. É mesmo assim? Quando foi a última vez que usou a palavra esperança?

Pra mim o futuro sempre esteve aberto, o futuro é um espectro de possibilidades. Sem futuro ficamos algemados ao passado, e o passado, mesmo glorioso, não é um lugar que goste de frequentar: muito dos víveres já perderam a validade. A esperança é o vector da vida, e por isso o único instrumento que temos para frequentar o futuro.

Pode fazer um curto auto-retrato?

“Círculo branco sobre fundo negro”, sem referência a Malevitch."

in Jornal de Negócios no Verão de 2015

 

Bienal de Artes de Coruche - 2015

 

Terminei mais um projeto “Bienal de Artes Plásticas de Coruche – 2015 – percursos com arte / envolvências locais”.

Reproduzo aqui o texto que escrevi para o catálogo da bienal de artes plásticas – 6ª edição.

 “A iniciativa Envolvências Locais, tal como na 5.ª edição da Bienal de Coruche – Percursos com Arte, surge para dar protagonismo a artistas locais e envolver a comunidade em geral.

 Com o propósito de envolver a comunidade (450 colaboradores / 20 instituições) surge a intervenção artística “Vestida de Lobeira”, desenvolvida considerando a importância da dicotomia identidade / inovação. Uma intervenção artística em malha, cuja matriz é a tradicional manta lobeira, expressa em 2 594 revestimentos de diversos elementos da praça da Liberdade e largo do Pelourinho.

 Os colaboradores vão desde os 3 aos 89 anos de idade, ou seja, as peças foram pensadas com o objetivo de todos poderem contribuir, desde o simples pompom ao revestimento com maior grau de dificuldade, e que fosse, também, um desafio para o próprio executante. Foram utilizados 900 novelos e 171 000 m de fio.

 “Encontrar o fio à meada” é uma expressão vulgarmente utilizada mas que faz todo o sentido para apresentar o Espaço Malhas. É um local onde estará alguma informação sobre a história dos lanifícios, processos de produção, peças que identificam a nossa cultura, referências à intervenção “Vestida de Lobeira”. A partir do desenvolvimento desta intervenção surgiu a curiosidade sobre o que está aquém e além do fio. Na expectativa de também criar curiosidade no público sobre esta matéria, o Espaço Malhas pretende ter uma dinâmica de interação de transferência do saber fazer e de consciencialização da importância da nossa identidade. Para além desta vertente, pretende-se que seja um espaço de encontro, de trabalho em malha onde estarão previstas duas sessões com artesãs da região.

Nesta edição o enfoque acontece também no âmbito da fotografia, considerando o interesse local por esta forma de expressão artística. Com o advento da fotografia digital muitos paradigmas fotográficos foram alterados. Com aparelhos mais simples de manipular e os programas de edição de imagem, a fotografia tornou-se mais acessível e popular. Irão estar expostas fotografias de 20 autores, ao longo do percurso definido para o evento, sobre a temática genérica “Coruche”.

A propósito de fotografia e de algumas vertentes de produções com fios, em termos mais convencionais/tradicionais e contemporâneas, haverá lugar a um colóquio sobre estas temáticas, com o contributo de José Fabião ( fotografo e gestor Pedagógico – Cursos de Fotografia na Escola Tecnológica, Inovação e Criação), Rosa Pomar (investigadora na área das malhas, bloger, autora do livro “História das Malhas Portuguesas”), Patrícia Simões e Tiago Custódio (autores do projeto neofofo – revestimento com tricot de calçada portuguesa).

Garantida está a envolvência de todos aqueles que deram de si em prol desta iniciativa, pelo que acreditamos ser um contributo interessante para a 6ª edição da Bienal de Coruche – Percursos com Arte. O desejo de fruição deste evento está explicito, contudo também há vontade de que sejam apreendidas algumas mensagens, nomeadamente a defesa das nossas tradições como património cultural, que criaram valor no passado e que pode e deve alavancar o nosso presente e futuro, de forma a afirmamos a nossa identidade face à globalização preponderante. “

Foram 9 meses de árdua jornada, trabalhei 11 e 12 horas por dia, acumulei funções, meses sem fins de semana, fiz tudo e de tudo, de criativo a assistente operacional, literalmente TUDO.

Agora é hora de retemperar forças, processar informação colhida ao longo deste período, fazer introspeção, de me fortalecer face às adversidades inerentes ao processo, sobretudo a mais densa, o não reconhecimento, salvo dos colaboradores e o público em geral, de quem recebi as mais diversas provas de apreço, alguém me disse “os seus pais onde estiverem devem sentir muito orgulho em si”, foi marcante esse momento. Contudo assiste-me uma enorme tranquilidade, talvez pelo fato da concretização dos objetivos ser inerente ao meu espírito de missão.

Aguardo o “CLIQUE” , sem ansiedade,   no sentido de perceber o rumo que deverei seguir, face à necessidade premente de desenvolver algo criativo.

Bienal de Artes Plásticas - Coruche 2015 - percursos com arte - envolvências locais

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03 de Outubro

Colóquio Bienal de Artes

 

José Fabião – fotógrafo e coordenador dos cursos de fotografia da ETIC, Escola de Tecnologias, Inovação e Criação

Tema: “A Fotografia nas redes Sociais”

NEOFOFO – Tiago Custódio e Tarícia Simões

Tema: Projeto Neofofo – A calçada portuguesa como nunca a viu

Rosa Pomar, investigadora, bloger, autora do livro “História das Malhas Portuguesas”

Tema: “As meias bordadas dos maiorais ribatejanos: uma técnica antiga recuperada”

 

Local: Praça da Liberdade, Coruche