Porque hoje faço 55 anos de idade!!!
Frequentei um jardim-de-infância, local onde se faziam vários trabalhos manuais, tenho memória de uma freira, irmã Lúcia, e de ter feito uma caixa em ráfia e uma girafa em cordel.
Mais tarde percebi a razão de nunca me ter esquecido dessa figura e das peças.
No ciclo preparatório a minha disciplina preferida era “Desenho e Trabalhos Manuais”.
Os meus pais decidem viver em Angola, tinha eu 10 anos de idade. Passei a pré-adolescência e adolescência entre a Metrópole e Angola. Após o 25 de Abril regressamos definitivamente a Portugal.
A vida nesse período foi vivida de forma dura, sobretudo para os meus pais, não tiveram disponibilidade de se concentrar em mim.
Fiz o liceu, o serviço militar, ingressei nos quadros da Câmara Municipal de Coruche, casei (tinha 22 anos de idade), fui pai aos 25 anos, e a vida foi se fazendo em função destas circunstâncias.
Em 1995, fui desafiado para desenvolver algumas atividades, em que era necessário ter alguma criatividade e habilidade de mãos, foi um desafio irrecusável, veio à memória a caixa de cartão e a girafa de cordel.
Terminado o desafio, verifiquei que não tinha músculo para gerir as coisas menos boas daqueles que estão em torno de nós.
Após uma pausa e já com alguma resistência, decidi apresentar uma coleção de peças decorativas, denominada “Massa com Feijão”, deu-me estímulo para continuar e fez-me perceber que ao desenvolver esta área seria uma pessoa mais feliz, e que me faria atravessar a vida com maior leveza.
Em 2001, participei numa mostra de artesanato em Coruche, sendo que verifiquei que 90% dos participantes não tinham ligação à minha terra, esse facto deixou-me curioso e inquieto.
Em Novembro de 2001, organizei um salão de artesanato em Coruche, para artesãos locais, que entretanto tinha descoberto. A dinâmica do projeto era divulga-lo ao máximo para houvesse conhecimento dele e para que outros se pudessem juntar a nós. Funcionou muito bem, iniciei com 8 artesãos, terminei com 18. Constatei durante a duração do salão (1 mês) que seria importante uma organização que dignificasse, estimulasse e divulgasse o artesanato em Coruche. Com o apoio de um pequeno grupo que formei, fundámos uma Associação de Artesanato (CORART – Associação de Artesanato de Coruche).
Vivi em estado de paixão, durante quase cinco anos, pelo projeto CORART, desenvolvi dezenas de atividades, locais e não só.
A paixão tomou conta de mim e fisicamente não resisti, fiquei doente e dei o “filho para adoção” – Associação de Artesanato de Coruche. Iniciei a Associação com 20 associados, quando saí erámos cerca de uma centena.
Após uma pausa para recuperação, retomei atividade individualmente e, também como colaborador de um jornal local, fiz durante muito tempo (até o jornal terminar) rúbricas de artesanato para promoção e divulgação dos n/ artesãos.
Individualmente desenvolvo várias coleções de peças úteis e decorativas, ao nível de pintura (madeira, cerâmica e têxtil), recortes em latão e flores em papel. As coleções têm sempre como premissas símbolos de Coruche (Toiros, Corujas, Chita da Terra, Nª Srª do Castelo, e outros).
Após a experiência da Associação de Artesanato e da colaboração no jornal, entendi que seria útil registar em livro, para memória futura, aqueles que se dedicam ou dedicaram às Artes e Ofícios em Coruche.
Em 2009, iniciei a inventariação dos artesãos / artífices, decidi que seria interessante ter um registo fotográfico das peças, e desse modo solicitei a colaboração a fotógrafos para produzirem fotografia de autor, num paralelismo da arte pela arte.
Com a colaboração e o apoio de muitos, foi possível concretizar este projeto – Livro “Mãos com Alma – artes e ofícios e Coruche”.
Há poucas certezas na vida, contudo eu tenho uma, foi determinante o estímulo exercido pela irmã Lúcia, em mim, quando construi a caixa de ráfia e a girafa de cordel.
Tenho um amor, grande, pelo artesanato, pelos ofícios, pelas artes em geral.